Teatro Guaíra traz arquiteto referência em acústica para melhorar o som do espaço 06/08/2025 - 11:53

Durante os ensaios da Orquestra Sinfônica do Paraná, uma presença atenta se destaca no fundo da plateia vazia: a do arquiteto e especialista em acústica José Augusto Nepomuceno, referência latino-americana no tema e fundador do escritório Acústica & Sônica, focado em projetos de acústica, controle de ruído e vibrações, com sede em São Paulo. 

Com décadas de experiência em projetos de teatros e salas de concerto no Brasil e no exterior, Nepomuceno está prestando consultoria ao Centro Cultural Teatro Guaíra para analisar e propor melhorias para o espaço. A missão dele é compreender como os sons reverberam no local e entender como o público pode desfrutar de uma experiência sonora ainda melhor. 

Especialista em ambientes de "escuta sensível" — aqueles em que cada detalhe sonoro compõe a experiência artística — o arquiteto considera alguns ajustes estratégicos para potencializar a excelência acústica do Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto (Guairão) e do Auditório Salvador de Ferrante (Guairinha). 

O trabalho dele no teatro faz parte do escopo do projeto de reforma e revitalização do Centro Cultural Teatro Guaíra e da aquisição de equipamentos cenotécnicos, cuja verba foi anunciada pelo Governo do Paraná no ano passado (leia mais abaixo).

Nepomuceno também vai desenvolver um novo projeto de concha acústica para os ensaios e apresentações da Orquestra Sinfônica do Paraná. Esse aparato cênico, fundamental em grandes salas de concerto, tem a função de direcionar e projetar o som de forma uniforme, proporcionando uma experiência sonora de excelência e permitindo que os músicos se escutem com mais clareza e equilíbrio.

“A direção do Teatro teve enorme coragem em buscar a excelência com uma concha acústica compatível com a dos melhores teatros do mundo”, destacou Nepomuceno.

O projeto envolve alto grau de complexidade. Atualmente, a única fornecedora desse tipo de estrutura é a empresa norte-americana Wenger. Por se tratar de um equipamento de grande porte, a logística de transporte e instalação exige um planejamento detalhado. 

“Hoje dependemos de decisões muito singulares: qual seria o tamanho desta concha e quais limitações poderiam ser admitidas? Como o arranjo da Orquestra tende a mudar a partir de uma concha profissional? São detalhes importantes que precisamos levar em consideração neste projeto”, explicou. 

Para o diretor-presidente do Centro Cultural Teatro Guaíra, Cleverson Cavalheiro, contar com especialistas de renome é essencial para garantir a excelência do projeto de modernização do teatro. 

“Estamos trazendo profissionais com profundo conhecimento da estrutura do teatro. O Nepomuceno — indicado pelo maestro Roberto Tibiriçá — foi responsável pela execução da Sala São Paulo e da Sala Minas, é um dos melhores do país e foi convidado para somar à equipe dessa grande reforma”, comentou. 

O especialista analisou também a acústica do Guairinha - considerada excelente - e avaliou os espaços e corredores do teatro que interligam os auditórios. Ele apontou que, nesse quesito, há um desafio: um pequeno vazamento de som entre os o Guairão e o Guairinha, questão que está sendo estudada para identificar soluções que minimizem a interferência acústica. “Para o público é quase imperceptível, mas isso pode prejudicar o desempenho de quem se apresenta. Considerando que o teatro é um patrimônio público, temos um desafio”, afirmou Nepomuceno.

PRIMOR DE ARQUITETURA — Nepomuceno lembra que o Teatro Guaíra, projetado em estilo moderno por Rubens Meister, possui características singulares, como uma sala em formato de leque e camarotes laterais e balcões, além de grande capacidade - de 2.173 espectadores só no grande auditório. Essa configuração, combinada com o cuidado com materiais e tecnologias de difusão e absorção sonora, faz da acústica do espaço uma das melhores do Brasil. “É um primor da arquitetura”, elogiou. 

Relatos de artistas e técnicos, aliados a estudos de acústica feitos por professores da Universidade Federal do Paraná, reforçam que, graças ao projeto arquitetônico e ao rigor técnico, tanto o Guairão quanto o Guairinha proporcionam experiências sonoras diferenciadas. 

“A noção de espacialidade do som é algo relativamente recente. O Teatro Guaíra está entre os quatro melhores teatros do país, mas é preciso lembrar que o prédio foi construído na década de 1950, precisa ser modernizado para se adequar às exigências artísticas contemporâneas, respeitando suas particularidades”, ponderou.

Ele ressalta que investir em arte e cultura é imprescindível. “Muitos pensam que o investimento prioritário deve ser apenas em hospitais, mas um teatro é, sobretudo, um hospital de almas, de sentimentos, um espaço vital para qualquer sociedade. Investir em arte é fundamental, e louvo a coragem da direção do Teatro Guaíra, que busca a excelência compatível com a dos melhores teatros do mundo”, afirmou.

REVITALIZAÇÃO — Durante a celebração dos 140 anos do Teatro Guaíra, em setembro do ano passado, o governador Carlos Massa Ratinho Jr. anunciou o repasse de R$ 50 milhões para adequação e modernização da estrutura do Teatro Guaíra, a fim de receber com excelência espetáculos artísticos e culturais, que vão desde peças teatrais e concertos musicais até apresentações de ópera e balé. 

Também está prevista a compra de instrumentos musicais para a Orquestra Sinfônica do Paraná, um dos quatro corpos artísticos permanentes da casa, ao lado do Balé Teatro Guaíra, da Escola de Dança Teatro Guaíra e da G2 Companhia de Dança. Outra novidade será a criação de um memorial para abrir o Guaíra a visitas guiadas permanentes. 

“A reforma vai além do que o público vê, envolvendo melhorias técnicas, restauro do patrimônio, modernização cenotécnica e a criação de visitas guiadas permanentes. O teatro continuará surpreendendo, agora com infraestrutura ainda mais segura e equipada. É a primeira grande reforma do Grande Auditório e do Guairinha”, acrescentou Cavalheiro.

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