Muito além da sapatilha: o processo de iniciação às pontas na Escola de Dança Teatro Guaíra 03/04/2025 - 15:08

A sapatilha de ponta é um dos maiores símbolos do balé clássico, permitindo que as bailarinas dancem na ponta dos pés e realizem movimentos técnicos que não seriam possíveis com sapatilhas de meia-ponta. No entanto, o uso da ponta exige força, técnica e um preparo rigoroso. Por isso, as primeiras aulas de ponta representam um momento marcante na trajetória de qualquer bailarina. Na Escola de Dança Teatro Guaíra (EDTG), a transição para a sapatilha de ponta é cuidadosamente orientada. As alunas recebem acompanhamento desde a escolha da sapatilha ideal até aulas teóricas e de costura, que garantem que elas compreendam a estrutura dos pés, os diversos modelos de sapatilha e como prepará-las para o uso.
Nesta semana, as alunas do Nível de Formação 2, que têm entre 10 e 13 anos, tiveram a primeira aula teórica sobre sapatilha de ponta, em que aprenderam os cuidados necessários com a sapatilha, com as ponteiras de proteção e com os próprios pés. Na mesma aula, elas também aprenderam a costurar suas sapatilhas, para que fiquem bem ajustadas aos pés. Só depois dessa etapa as alunas aprendem a subir e descer nas pontas e a desenvolver os elementos técnicos do balé com o uso dessa sapatilha.
"A transição para as pontas desperta muita expectativa tanto nas alunas quanto em seus familiares", explica Larissa Pansera, diretora da EDTG. "Por isso, já na primeira reunião do ano, orientamos os responsáveis a não comprarem a sapatilha antes da hora. Esse é um material caro e que precisa ser escolhido com cuidado, considerando o modelo mais adequado para cada tipo de pé". Ela explica que a iniciação às pontas é um trabalho gradual. “Tem toda a parte teórica sobre anatomia dos pés, sobre a sapatilha em si e como costurá-la. Ao final do primeiro bimestre as alunas já começam com a tão esperada aula de pontas”.
A professora Gylian Dib, responsável pela turma F2, destaca que a iniciação ao trabalho de ponta vai além da idade das alunas. "Avaliamos não apenas a faixa etária, mas também a maturidade biológica e técnica de cada estudante", explica. “Temos um diferencial importante: contamos com o acompanhamento de uma professora que também é fisioterapeuta. Ela auxilia as alunas na escolha da sapatilha, analisando o formato dos pés, a força muscular e o nível de rigidez necessário para cada bailarina”, destaca.
Outro diferencial da EDTG é a estrutura de ensino, que inclui aulas diárias e uma formação completa tanto em balé clássico quanto em dança contemporânea, com embasamento teórico e orientação de diferentes professores. “Essa base sólida é essencial para uma progressão segura. Infelizmente, em muitos lugares, as pontas são introduzidas precocemente, o que pode comprometer o desenvolvimento técnico e até afetar o crescimento das crianças e pré-adolescentes”, alerta Gylian.
A professora Lucilene Almeida, que ministrou a primeira aula teórica e a aula de costura, ressalta a importância desse preparo. "No passado, aprendíamos na prática, sem tanta orientação. Hoje, com estudos fisiológicos e anatômicos, entendemos melhor o processo de fortalecimento das articulações, permitindo uma introdução mais segura às pontas. Além disso, a teoria ajuda as alunas a conhecerem seu próprio corpo e a entenderem como o esqueleto e os músculos trabalham durante a execução dos movimentos", explica.
EXPECTATIVA — Luiza Bruning, de 11 anos, entrou na EDTG em 2023, e estava ansiosa pelas primeiras aulas de ponta. “Fiz amizade com alunas mais velhas e elas me contaram como era. Foi bem legal a aula de costura, porque você aprende a costurar a sapatilha que vai usar pelo resto do ano”, disse. Theodora Bronze, de 10 anos, também tinha grandes expectativas por esse momento. “Foi uma experiência muito legal: a primeira ponta da minha vida, que eu mesma costurei”, diz Theodora, que ingressou na EDTG em 2024.
EDTG — A Escola de Dança Teatro Guaíra é o corpo artístico mais antigo do Teatro Guaíra, criada em abril de 1956. O objetivo original da Escola era formar bailarinos de qualidade que mais tarde iriam suprir a futura Companhia de Dança do Teatro, hoje Balé Teatro Guaíra. Escola e Balé são atualmente corpos artísticos distintos e independentes, porém compartilham a mesma casa, o Centro Cultural Teatro Guaíra, o que permite parcerias e contribuições. Atualmente, a EDTG tem cerca de 100 alunos e é uma das únicas escolas de dança de caráter público do país, sendo mantida pelo Governo do Estado do Paraná. A EDTG oferece o Curso Livre de Formação do Artista Bailarino do nível preparatório ao aperfeiçoamento, com duração de 7 anos. O ingresso na EDTG sempre acontece mediante processo seletivo público. A EDTG oferece o Curso Livre de Formação do Artista Bailarino, no qual a criança ou o jovem é selecionada de acordo com sua aptidão física (Preparatório) ou nível técnico (Formação I a V). Todos os editais são públicos e divulgados no site do Teatro Guaíra. A inscrição e o curso são gratuitos.