Miniauditório do Teatro Guaíra recebe cantos de “Ilíada” no Festival Homero 08/10/2024 - 15:10

O Festival Homero dá sequência à temporada de celebração das obras clássicas “Ilíada” e “Odisseia”, neste fim de semana, no auditório Glauco Flores de Sá Brito, o Miniauditório do Teatro Guaíra. De 11 a 13 de outubro, cada apresentação traz um segmento sobre a Guerra de Troia. A iniciativa é da Companhia Ilíadahomero de Teatro, hoje a única companhia de rapsodos do mundo, ou seja, com atores e atrizes que falam de cór os cantos que compõem as obras.
“Soubemos disso quando estivemos na Grécia. Hoje isso não existe nem naquele país, onde a obra foi escrita. Isso foi uma grande surpresa”, comenta Octavio Camargo. diretor e fundador da companhia que há 25 anos se dedica a trazer para os palcos do Brasil e de outros países as obras clássicas da mitologia grega “Ilíada” e “Odisseia”, atribuídas a Homero.
O modelo de minifestival tem se mostrado eficaz para apresentar uma diversidade de cantos. Além disso, a ocasião celebra um período produtivo para a companhia, que teve uma grande demanda de apresentações. “Se contarmos todas as praças nos últimos anos, estivemos presentes em cerca de 15 estados do Brasil”, afirma Octavio.
A cada dia, sobe ao palco uma atriz para apresentar um dos segmentos da obra “Ilíada”, conhecidos como cantos: Patricia Reis Braga dá vida aos personagens do Canto 22 (na sexta, 11), Eliane Campelli encena o Canto 14 (no sábado, 12), enquanto Katia Horn finaliza a temporada com o Canto 13 (no domingo, 13). Na sexta e sábado às 20h e no domingo às 19h. Os ingressos estão à venda pelo Disk Ingressos.
Considerada a obra fundadora do pensamento ocidental, “Ilíada” se passa durante a Guerra de Troia tendo o herói Aquiles como protagonista, além de diversos outros personagens entre deuses, semideuses e humanos (como Zeus, Heitor, Juno, Júpiter, Vênus, Hipnos, Netuno, entre outros). A companhia utiliza a tradução experimental de Odorico Mendes, feita diretamente dos originais em grego. A iluminação entra como um importante elemento cênico e narrativo para conduzir a história e diferenciar os personagens. Foi concebida por Beto Bruel, um dos maiores e mais premiados iluminadores cênicos do Brasil.
A Guerra de Troia em três segmentos
A atriz Patricia Reis Braga inicia a nova etapa do Festival Homero na sexta-feira (11) com o Canto 22, que relata um dos episódios mais lembrados sobre a Guerra de Troia: a vingança do herói grego Aquiles, que persegue o heroi troiano Heitor, até encontra-lo para um combate que resultará na morte do oponente, que protegia não apenas Troia, mas também a infidelidade de seu irmão, Páris, ao raptar Helena, dez anos antes, com a ajuda da deusa Vênus. Um episódio comovente, pois Heitor deixará sua casa, sua esposa, seu filho e seus pais absolutamente vulneráveis na sua ausência.
Apesar do formato em que é apresentada, tanto no livro quanto no teatro, “Ilíada” é uma obra muito conhecida do imaginário popular, conforme relata a atriz, ao lembrar do convite para atuar no projeto, em 1999. “Confesso que suspeitava de minhas capacidades para adentrar aquele ‘mundo intelectual’, que por algum motivo habitava meu imaginário. E eis que na primeira leitura do poema, uma grande surpresa se revelou, e pensei comigo: ‘conheço isso de algum lugar’ (risos). Eu venho, também, de formação, do teatro popular, no qual o mundo maravilhoso das antigas tradições e dos mitos é exaltado. E é isso o que significa para mim, até hoje, se relacionar com este poema desafiador: um grande encantamento familiar e educativo”.
Além da beleza da tradição antiga, a atriz cita a tradução experimental de Odorico Mendes como outro fator de atração, além de ser um grande desafio. “Se apresenta como um novo idioma, um português que entendemos, não sabemos bem o que significa, mas sabemos que foi assim na antiguidade, também, a partir da reunião de vários dialetos da região”, observa. “Odorico é ligeiro, sua tradução pede oralidade e ação. Assim, permitiu Homero sair do livro e ir para cena teatral integralmente, tal como faziam os rapsodos, cada um com seus talentos e seus episódios preferidos. E é isso, também, o que fazemos: uma arqueologia estética”, completa.
Tradução instigante, diretamente do grego
A sintaxe de Odorico Mendes também é um ponto notável e diferencial para Eliane Campelli, que apresenta o Canto 14 no sábado (12). Para ela, se assemelha a outra forma de arte. “Fazer um clássico, em formato monólogo, é uma baita experiência, ainda mais com a tradução de Odorico, para mim uma partitura musical, aliada à direção de Octavio, que prioriza a palavra em primeiro lugar, e à luz primorosa do Beto Bruel para diferenciar cada personagem do narrador”, comenta.
Neste segmento da história, a deusa Juno concebe uma artimanha para afastar a atenção de seu marido Júpiter do combate e permitir, assim, que outros deuses auxiliem o exército dos gregos a vencer. Ela trama um plano, com a ajuda de Vênus e de Hipnos, o deus do sono, de levar Júpiter até os jardins do Gárgaro e lá colocá-lo para dormir.
Katia Horn, que finaliza o Festival Homero no domingo (13), com o Canto 13, também teve percepções semelhantes às de Eliane Campeli sobre o texto de Odorico. “Fiquei encantada pela musicalidade e complexidade da linguagem poética, e aceitei como um grande desafio e oportunidade de me desenvolver como atriz, que não era minha atividade principal na época. Foi uma escolha maravilhosa”, recorda. “É um projeto para a vida, pois a cada nova récita me aproprio mais do texto e das personagens, e descubro novas possibilidades cênicas”.
O canto 13, interpretado por Katia, foca em um momento de combate bastante acirrado na Guerra de Troia, com baixas numerosas para ambos os lados. Diversos heróis realizam ali suas façanhas, enquanto o deus Netuno interfere no campo de batalha, disfarçado como o profeta Calcas Testórides, estimulando os gregos a resistir. É também no canto 13 que o narrador revela aspectos curiosos da religiosidade arcaica como o véu que encobre os mortais e a luta invisível entre Júpiter e Netuno.
A Companhia
Fundada pelo diretor Octavio Camargo em 1999, a Cia Ilíadahomero de Teatro, de Curitiba, e tem por objetivo a encenação do texto integral da “Ilíada” e da “Odisseia” de Homero, entre outras obras literárias de interesse universal. Além do Brasil, a companhia já realizou apresentações em outros países como Grécia, Holanda e Portugal. Em 2023 apresentou “Ilíada” na Língua Brasileira de Sinais (Libras), em um projeto muito bem recebido pelo público e imprensa, em parceria com a produtora cultural Fluindo Libras.
Ficha Técnica
Direção artística: Octavio Camargo
Direção de produção: Giceli Camargo
Elenco: Leticia Guimarães, Richard Rebelo, Pedro Inoue (primeira etapa), Patricia Reis Braga, Eliane Campelli e Katia Horn (segunda etapa)
Iluminação: Beto Bruel
Montagem e operação de luz: Blas Torres
Assessoria de imprensa: Lide Multimídia
Arte gráfica: Marcelo De Angelis, Foca Cruz e Gilson Camargo
Fotografia e documentação: Gilson Camargo
Serviço:
Festival Homero
Datas: 11, 12 e 13/10
Horários: sextas e sábados às 20h; domingos às 19h
Local: auditório Glauco Flores de Sá Brito (Miniauditório do teatro Guaíra)
Endereço: Rua Amintas de Barros, 70, Centro
Classificação: 12 anos
Informações: @ciailiadahomero
Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia) à venda no Disk Ingressos.