FESTIVAL DE CURITIBA | “A Última Ceia”: peça-jantar inspirada em Da Vinci chega ao 33º Festival de Curitiba 31/03/2025 - 14:01

Com estreia no Kunstenfestivaldesart de Bruxelas, na Bélgica, em maio de 2024, o espetáculo contemporâneo “A Última Ceia”, do Grupo MEXA, passou ainda por Basel (Suíça), Berlim e Brunsvique (Alemanha), e São Paulo (SP) até chegar ao 33º Festival de Curitiba, onde fará duas apresentações nos dias 31 de março e 1º de abril, no Teatro José Maria Santos, dentro da Mostra Lucia Camargo. Os ingressos estão esgotados. 

Um grupo de pessoas se senta em uma mesa para sua última refeição. Alguém avisa que vai morrer e que o grupo não vai mais existir. É uma despedida. Poderia ser uma ficção, mas nem sempre é. Essa noite ninguém vai ser salvo. Na “peça-jantar”, a companhia parte da Bíblia para atualizar, a partir das suas vivências, a ideia de morte e ressurreição. Como continuar só, quando o coletivo não mais existe? Quem conta as histórias de corpos que já não podem mais falar?

“A peça-jantar parte do famoso quadro homônimo de Leonardo Da Vinci e do acontecimento bíblico para se perguntar: como criar uma imagem final que persista, ainda que aquele grupo não exista mais? Assim, A Última Ceia apresenta-se como uma despedida e brinca com a ideia de verdade e ficção. Ao longo da história, o coletivo explora as suas vivências pessoais, bem como as ideias de morte e ressurreição”, apresenta a sinopse.

Dirigida e escrita por João Turchi, a montagem parte do famoso quadro homônimo de Leonardo Da Vinci e do acontecimento bíblico para se perguntar: como criar uma imagem final que persista, ainda que aquele grupo (de pessoas) não exista mais? “Esse pode ou não ser nosso último espetáculo. Nesses nove anos de trajetória, essa sempre foi uma questão e, desta vez, quisemos explorar essa ideia”, comenta o encenador.

Dessa forma, “A Última Ceia” se apresenta como uma despedida e brinca com a ideia de verdade e ficção. Ao longo da história, o coletivo explora as suas vivências pessoais, bem como as ideias de morte e ressurreição. E, ao mesmo tempo, reflete: quem conta as histórias de corpos que já não podem mais falar?

O espetáculo é dividido em dois momentos. Na primeira parte, a estética e a encenação remetem a uma peça-palestra. As atrizes Aivan, Alê Tradução, Dourado, Patrícia Borges, Suzy Muniz e Tatiane Arcanjo exploram as suas relações com o quadro de Da Vinci e com os apóstolos.

“Todas elas são muito ligadas à religião e têm histórias bem significativas com a obra, até porque o MEXA foi fundado em uma casa de acolhida que tinha esse quadro na parede. Então, elas vão compartilhando as suas narrativas, e, enquanto isso, o grupo vai acabando. Acontecem brigas, as artistas saem de cena e, em um determinado ponto, o cenário é desmontado”, afirma Turchi.

A peça foi pensada para ter muitas surpresas. Por isso, o texto se costura por fatos inusitados. “A Patrícia, por exemplo, conta que o único quadro que ela teve na vida foi uma reprodução de ‘A última ceia’, de Da Vinci. Era de uma vizinha e ela fez de tudo para consegui-lo: trocou vestido, mega hair, perfume e várias outras coisas pela obra, que, inclusive, resistiu a várias tragédias”, completa o diretor.

De acordo com Turchi, o grupo costuma incorporar nos seus trabalhos algumas situações emblemáticas que ocorrem durante os ensaios. No caso de “A Última Ceia”, após todos terem lido a Bíblia juntos, as artistas escreveram em um papel quem gostariam de interpretar e a resposta foi unânime: Judas. Por esse motivo, foi incorporada no espetáculo uma cena em que elas disputam para ser esse personagem – e é a plateia quem escolhe a vencedora.

Os diversos relatos apresentados fazem as costuras entre as duas partes do espetáculo. Por exemplo, Suzy, que nasceu no Maranhão, diz que em sua cidade há uma tradição de, nos velórios, as pessoas comerem o prato favorito do morto, como uma grande homenagem. E é esse o prato servido durante o jantar da segunda metade da peça.

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