FESTIVAL DE CURITIBA | Montagem inovadora de “Rei Lear” é destaque no Guairinha 31/03/2025 - 14:09

A releitura do clássico “Rei Lear", da companhia Extemporânea, chega hoje (31) ao Teatro Guaíra. Na montagem que faz parte da 33ª edição do Festival de Curitiba, dentro da Mostra Lúcia Camargo, a dramaturgia shakespeariana se encontra com a vida da drag queen contemporânea. Com apresentações nos dias 31 de março e 1 de abril, às 20h30, no Auditório Salvador de Ferrante (Guairinha). Os ingressos estão esgotados.
A homenagem da companhia teatral ao universo drag conquistou público e crítica, desde a estreia em agosto passado. O protagonista, Alexia Twister, inclusive foi indicado ao Shell de melhor ator. No Festival de Curitiba, a peça foi uma das primeiras a esgotar os ingressos.
Com figurinos de Salomé Abdala e visagismo de Malonna e Polly, a montagem da Cia. Extemporânea imagina um mundo drag, onde todos os eventos e conflitos são modulados por essa estética. Nessa perspectiva, Lear é uma “mama drag” e suas filhas estão disputando o poder.
Em cena está o que a diretora chama de drag total. Para além da comicidade a que fomos habituados a vê-la, toda a força da sua linguagem está direcionada para capturar a profundidade e a ressonância do registro trágico. “A gente quis fazer o maior desafio e já fomos direto para a tragédia mais desafiadora e uma das mais longas do Shakespeare – e uma das mais difíceis também”, pontua a diretora, Ines Bushatsky, que desde 2017 vem maturando essa ideia.
O Rei Lear é uma peça com duas narrativas acontecendo ao mesmo tempo, são muitos personagens. Para Bushatsky, muito do sucesso se deve à adaptação e tradução do texto do João Mostazo, que codirige a companhia ao seu lado. “Ele fez um texto muito aberto, muito liberto, e ao mesmo tempo muito fiel à poesia e à tragicidade do Shakespeare. Fomos fiéis à tragicidade, sabendo que as drags trariam um tempero de comédia”, acrescenta.
Para Mostazo, a peça mostra como a tragédia shakespeariana e a arte drag têm vários pontos de contato. “O que fomos descobrindo é que a drag tem em si toda a potência trágica, ela acessa toda a complexidade de emoções que compõem a tragédia. E, por outro lado, com as suas sacadas de linguagem, provocações e irreverência, Shakespeare é também muito mais drag do que normalmente se supõe”, pontua. Desta forma, a montagem chegou a um ‘lugar’ em que Shakespeare mantém suas principais características, ao mesmo tempo em que a drag se mantém naquilo que ela tem de mais autêntico: a dissolução das fronteiras estéticas e o desafio aos papéis tradicionais de gênero.